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"Não é a primeira vez que os poemas de Nuno Moura encontram encarnações musicais. Lembramo-nos, assim num repente, da gravação em tempo real divulgada com um dos números da revista Big Ode, um cheirinho da mesma na colectânea Não resistir Só e Não Só resistir (vide Ventilan), ou das recriações levadas a cabo por A Naifa em 3 Minutos Antes de a Maré Encher. Aparentemente inadaptável, a poesia de Moura reclama constantemente as oscilações da língua portuguesa. Mau Sangue é, muito provavelmente, a melhor das encarnações que tais textos podiam encontrar. Essencialmente electrónica, a música de José Ferreira tem o mérito de responder à urbanidade dos textos. E fá-lo cumprindo o mais nobre dos estímulos: a dança. Há aqui temas, chamemos-lhe assim, tão radio friendly que custa acreditar não virem a ser grandes sucessos do Verão de 2012. Por outro lado, as concessões rítmicas acabam pervertidas pela derrisão da palavra. Cock Ring é um bom exemplo, com manipulações rítmicas claramente dançáveis a servirem de base ao discurso aguilhoado do poeta. Tem qualquer coisa de revolucionário, se entendermos por revolução a arte de pôr Deus a dançar com um martini na mão e os olhos postos nas ancas das virgens. A voz de Beatriz Nunes empresta sensualidade melódica a alguns temas, ao mesmo tempo que eleva a fasquia interpretativa dos textos. É como se naquela voz as palavras se abrissem, largando no ar a musicalidade enclausurada no texto escrito. Portanto, instantes de extraordinária libertação poética. Fado do Osso (Almodóvar) e Parabéns Amália, com um arranjo de viola neo-romântico ideal para noites de Verão, são grandes momentos musicais do ano. Escuto-os em repeat e não me canso. Imperdível."
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